Marcela Argollo
Procuram-se funcionários com alta Flexibilidade moral
Dia 29/10/2019, ao abrir meu LinkedIn, me deparei com uma notícia que me causou um choque muito grande, a empresa de consultoria ICTS realizou uma pesquisa a qual demonstrou que a crise a qual estamos vivendo no Brasil fez com que os profissionais aumentassem a flexibilização moral em detrimento do medo da perda do emprego e dificuldade de recolocação no mercado de trabalho. Os quesitos avaliados em pesquisa foram: tratamento de informações confidenciais bem como sigilo profissional de informações e pagamento de propina.
Há algum tempo fui desligada de uma empresa a qual trabalhava. Como tenho grande experiência em grandes corporações, adquirida na época em que trabalhei em uma empresa Big4, vi que havia a possibilidade de implementar nesta empresa diversos controles que melhorariam não somente alguns processos, como reduziria o custo e melhoraria o fluxo de caixa. Para minha surpresa, 1 ano após trabalhar arduamente nestas mudanças, fui informada de meu desligamento, sendo que a justificativa que me deram no momento foi que eu era justa e certa demais, e que infelizmente a empresa precisava de alguém com maior flexibilidade moral para aquela posição.
Como eu poderia pensar em ferir meus princípios básicos como ser humano, em detrimento do medo de não conseguir uma recolocação no mercado de trabalho que atualmente está em crise?
Contrataram uma pessoa de Compliance, com forte experiência em auditoria de processos e planejamento financeiro. O que esperavam disso? Esperavam que eu fosse ceder a minha ética e moral em detrimento de atitudes que julgo inadequadas diante de meus valores como indivíduo? Perdi meu emprego por uma falsa expectativa da empresa em supor que eu poderia aceitar praticar atos em desacordo com o que prego na vida. O que não levaram em consideração foi a criação que tive e os bons exemplos que sempre me rodearam no meu ambiente familiar. Pensavam eles que eu cederia a uma pressão por medo da vulnerabilidade a qual o país vive, em detrimento de quem eu sou na essência? Naquele momento não entendi e muito menos concordei com o que me foi dito, achei que o discurso ia completamente em confronto com meus valores pessoais. Porém ao me deparar com a pesquisa citada acima, comecei a me questionar quantas pessoas estão vivenciando isso no mercado de trabalho, porém se submetem a essa situação, ou por medo de encarar as dificuldades de estar desempregado, ou até mesmo porque não tiveram uma estrutura familiar sólida?
Difícil a resposta.... Entendo perfeitamente esse dilema, porém creio que a individualidade moral vale mais do que o medo de não conseguir um novo emprego. Talvez devêssemos fazer desse limão uma limonada não? De colocar esse ponto de inflexão moral como um fator e diferencial no momento da sua próxima contratação! Ou pelo menos assim deveria/poderia ser encarado.
Meu questionamento atual é: com a educação atual das crianças da geração Alpha, educação com menos rigidez e exemplos diários familiar, qual será o resultado de adultos profissionais em 2035? Qual será a flexibilidade moral desta geração? Visto que possa ser que os valores não estejam sendo passados para essas crianças de maneira solida e o mais importante, com exemplos!!
Segundo Maquiavel a “virtude do Estadista é a flexibilidade moral, a disposição de fazer o que for necessário para alcançar e perenizar a glória cívica e a grandeza – quer haja boas ou más ações envolvidas – contagiando os cidadãos com essa mesma disposição”.
Será mesmo que deveríamos pensar em flexibilidade moral como Maquiavel aborda acima? Ou deveríamos pensar em não ferir nossos valores sólidos, não deveríamos tomar atitudes que julgamos sendo más, em detrimento do cenário que estamos inseridos?
Uma reflexão a ser feita!
Convido vocês a deixarem aqui seus comentários sobre o este tema.
